segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Amamentação: será que vou ter leite?

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Um dos primeiros indícios de que uma mulher está grávida está nas mamas. Muitas ainda nem fizeram o teste para saber se estão mesmo gerando um bebê e já percebem que seus seios estão maiores e há veias mais aparentes. A aréola cresce, fica mais espessa e escura e surgem pontos altos, como se fossem pequenas protuberâncias. Tratam-se das glândulas de Montgomery, responsáveis por secretar uma substância lubrificante que vai proteger a aréola contra rachaduras e machucados quando o bebê começar a sugar. Apesar de todos esses indícios, muitas se perguntam se vão mesmo conseguir amamentar. Algumas têm medo da dor que o ato pode provocar. Outras questionam se terão disposição para passar tantas horas disponíveis às necessidades do bebê. E há ainda quem tema não ser capaz de produzir leite nas doses e qualidade necessárias. Isso sem falar naquelas que têm todos esses receios ao mesmo tempo.

Entender melhor o processo pelo qual o organismo humano fabrica alimento para sua cria ajuda a acalmar essas aflições. E a chave para tal entendimento está na ação de dois principais hormônios: a prolactina e a ocitocina. O primeiro é principalmente responsável pela produção de leite. Já o segundo tem a função de fazer com que o líquido produzido nas mamas saia de lá. Ele também está por trás das contrações do útero durante o parto. Depois que o bebê nasce e a placenta é eliminada, os índices de prolactina se elevam. A mama começa a produzir colostro, uma substância amarela que precede o leite propriamente dito e é rica, sobretudo, em anticorpos. Entre 24 e 72 horas depois do nascimento, ocorre um processo chamado apojadura. Como uma máquina a todo vapor, todas as glândulas mamárias (estruturas onde o leite é fabricado e ejetado) estão em pleno funcionamento. “É comum, nesse momento, que as mamas fiquem ainda maiores e quentes, graças à vascularização na área”, diz a enfermeira obstétrica Isilia Aparecida Silva, coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Aleitamento Materno da Universidade de São Paulo (USP). E, em até uma semana depois do parto, o colostro passa a dar lugar ao leite maduro.

Quem garante a continuidade da produção de leite é o bebê. Ao sugar o seio da mãe, ele aciona terminações nervosas que enviam para o cérebro o estímulo para a secreção de prolactina e ocitocina. Se a criança conseguir abocanhar o peito da forma correta (não só o bico, mas quase toda a aréola e encostando o queixinho no peito), há grandes chances de que tudo ocorra bem. Em alguns dias, portanto, a fabricação de leite estará regularizada e as mamas passarão a produzir a quantidade necessária para aquele bebê. Além disso, a pega correta evita rachaduras e dor.

O grande problema é que nem todos os bebês nascem sabendo mamar. Nos primeiros dias de vida, é preciso muita paciência, treino e apoio para que o aleitamento engrene. “Amamentar é também uma questão de aprendizado”, afirma o pediatra especialista em aleitamento Marcus Renato de Carvalho, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O ideal é que a mãe tenha por perto alguma outra mulher em quem confie (pode ser uma parente, uma amiga ou até uma profissional contratada) e a ajude nesse processo. A mãe também precisa estar convencida de que descanso, alimentação balanceada e bem-estar são fundamentais para o sucesso da amamentação. Para saber se o bebê está mamando a contento, há dois bons sinalizadores: o ganho de peso, que deve ser checado em consultar periódicas com o pediatra; e o volume de urina. O esperado é que um recém-nascido troque cerca de seis ou sete fraldas cheias por dia.


Mito ou verdade?
Esclarecemos, de uma vez por todas, as principais crenças que pairam sobre o aleitamento materno

Amamentar é um ato natural.
MITO
De fato a produção de leite é algo natural, que ocorre normalmente em quase 100% das mulheres após o parto. Só uma parcela ínfima da população feminina, em torno de 2%, é portadora de mamas mal desenvolvidas ou problemas hormonais, que acabam atrapalhando esse processo. No entanto, o ato de amamentar, ou seja, de conseguir fazer com que o líquido fabricado dentro das mamas saia de lá e alimente o bebê adequadamente é algo muito mais complicado e depende não só de aprendizado, mas de condições ambientais favoráveis. O hormônio ocitocina, por exemplo, é o responsável pelo movimento de ejeção. É ele que promove a contração e dilatação dos ductos mamários que expulsam o leite. O grande problema é que a mulher só experimenta níveis satisfatórios de ocitocina se estiver tranquila e descansada. Preocupações, estresse e depressão, sintomas muito comuns durante o pós-parto, são deletérios. Outro entrave é a pega do bebê. Para que consiga sugar o alimento, a criança precisa abocanhar a aréola da forma correta. Alguns recém-nascidos, porém, têm dificuldade em fazer isso e só conseguem depois de algum treino. A pega inadequada também pode provocar machucados e dores nas mamas, o que dificulta ainda mais o processo.

Filhas de mulheres que não conseguiram amamentar têm maior risco de não ter leite.
MITO
A capacidade de amamentar não é hereditária. “Por outro lado, mulheres que fazem parte de famílias em que a amamentação é valorizada e que recebem apoio de suas parentes durante o pós-parto têm mais chance de serem bem-sucedidas na empreitada”, explica Carvalho.

Seios pequenos são um sinal de que a mulher terá pouco leite.
MITO
Aqui vale o velha máxima “tamanho não é documento”. De fato, os seios aumentam de tamanho já durante a gravidez e continuam maiores enquanto a mulher amamenta. Trata-se de um sinal de que a mama está sendo preparada para a produção do líquido, que está mais irrigada por vasos sanguíneos e os alvéolos começam a ser preenchidos por colostro, a substância que precede o leite propriamente dito. Mas, o volume das mamas pouco importa. Isso porque o leite é produzido também durante a mamada e não precisa ficar 
estocado. Peitos pequenos, portanto, são perfeitamente capazes de alimentar bebês glutões.

O implante de silicone atrapalha a amamentação.
MITO
As técnicas mais modernas de implante de silicone não alteram as estruturas da mama e, portanto, não interferem nem na produção, nem na ejeção do leite. Algumas cirurgias para redução de mama, porém, seja por finalidade estética ou terapêutica (retirada de tumores, por exemplo), removem ou cortam porções importantes, como ductos, glândulas ou até mesmo o mamilo. Nesses casos, a amamentação está, sim, em risco.

O formato do bico interfere na pega do bebê.
VERDADE
Cerca de 7% das mulheres possuem o chamado de mamilo semiprotuso ou subdesenvolvido, o que nada mais é do que um bico pequeno, quase inexistente. Embora elas estejam mais sujeitas a traumas, podem amamentar com sucesso desde que se preparem para isso. Ainda durante a amamentação, elas devem fazer exercícios de exteriorização, que estimulam os músculos da aréola e fazem com que o bico avance um pouco além do normal. “A mãe que tem os mamilos subdesenvolvidos não deve permitir que seu bebê conheça outro tipo de bico a não ser os seus, pois, assim, terá maior possibilidade de sucesso na amamentação”, ensinou a enfermeira Vera Heloisa Pileggi Vinha, em seu O Livro da Amamentação (Editora Mercado de Letras). Existe ainda outro problema que requer mais cuidados. São os mamilos malformados. Nesses casos, que afeta cerca de 1% das mulheres, o bico fica posicionado dentro da mama e existe um risco real de que o aleitamento não seja possível. Entre as alternativas para evitar que isso aconteça está o uso de bicos artificiais. É aconselhável também procurar ajuda de profissionais, como enfermeiras e médicos especialistas em aleitamento.

Mulheres que têm pele fina sentem mais dor durante a amamentação.
MITO
Há algum tempo, acreditava-se que seria necessário preparar a mama durante a gravidez para evitar dores, rachaduras e machucados. Os médicos indicavam, então, esfregar a aréola com bucha e tomar sol nos seios para engrossar a pele. “Hoje sabemos que o maior causador de tais problemas é a pega errada do bebê e que o tipo de pele pouco ou nada importa”, diz Carvalho. Na verdade, a mama é preparada naturamente durante a gravidez. Já nas primeiras semanas de gestação, surgem as glândulas de Montgomery, pequenos pontos altos que secretam substâncias lubrificantes e protetoras. Além disso, a espessura do mamilo aumenta em cerca de 1,5 milímetro e o diâmetro da aréola, em 1,5 centímetro.

É importante ter uma alimentação balanceada e regrada durante o período em que se está amamentando.
VERDADE
“Todas as mulheres, gordas ou magras, bem ou mal nutridas, são capazes de produzir leite em quantidades satisfatórias para o seu bebê”, diz Isilia. O grande problema é que tanto os nutrientes como a água utilizados para a produção do líquido serão retirados do corpo da mulher. Mães que comem mal durante o período de amamentação podem sofrer perdas nutricionais. Daí a necessidade de ingerir líquido e adotar uma dieta saudável, porém não necessariamente muito mais calórica do que aquela que tinha antes de engravidar. O ideal é ter o acompanhamento de um profissional (pode ser o obstetra ou um nutricionista) que vai ajudá-la a definir a melhor dieta.

Não existe leite fraco.
VERDADE
As mães produzem exatamente a quantidade e a qualidade de leite necessárias para suprir as carências do seu bebê. O mito de que algumas mulheres fabricam leite fraco tem diversas origens. Uma delas vem do fato de que o leite não é o mesmo ao longo da mamada. O líquido ejetado durante os primeiros dez minutos de sucção, por exemplo, é rico em água, proteína e células imunológicas e tem uma aparência rala. Daí a ideia de que ele seria fraco. Não é. Até porque, depois dele, é produzida uma substância mais espessa, composta de moléculas maiores de açúcar, gordura e carboidratos, o que completa a nutrição o bebê. Além disso, embora pareçam mamar bastante, algumas crianças apenas ficam “penduradas” no peito, mas sugam pouco. Como consequência, acabam não engordando o esperado e choram de fome com muita frequência. Nesses casos, é comum achar que o problema está no leite, que não sustentaria a criança.

Quando a produção de leite cai, não há mais volta aos níveis ideais e o caminho natural é o desmame.
MITO
Ao longo do período de lactação, é comum que as mães passem por fases em que fabricam menos leite. Um evento estressante, a mudança de rotina ou uma doença podem desencadear o problema, por exemplo. Para reverter a situação, basta recuperar a calma e a disposição. À medida que o bebê a sugar, a produção tem grandes chances de voltar ao normal. Além disso, é possível fazer ordenha (manual ou mecânica) para estimular as mamas.

Extraído da revista crescer.com

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

COISAS DE MÃE PARA FILHA

Novo livro da editora Brinque-Book traz o depoimento de 23 mulheres sobre a experiência de ser mãe. Confira alguns trechos.



“O que eu diria à minha filha se eu tivesse de completar a frase: ‘Filha, eu não podia deixar de lhe dizer...’ Que conselho, que chave, que charada? Que mapa, que mina, que tesouro? Que senha, que segredo, que dogma? Que receita, que fórmula, que certezas? De quais virtudes falar? Que excessos evitar? Que erros cometer? Que regras quebrar? Que valores respeitar? Que histórias guardar? Que episódios esquecer? Que armas carregar, que defesas, que ferramentas? Do que falar? Deus? Filtro solar? Amor? Salvação do planeta? Carreira? Terapia? Meditação?”. 
Hilda Lucas, escritora 


"Uma palavra para vocês três (e que, espero, o Danilo também leia)
Sonho é algo de que a gente não pode abrir mão, nunca. Renunciar aos nossos sonhos essenciais, supostamente em favor do outro, é sempre uma conta que acabamos cobrando de alguma forma. Sinto-me uma mãe feliz, agradecida, porque fui capaz de preservar os meus sonhos fundamentais e hoje posso deixá-los como legado ou testemunho de que só aprendemos a voar, voando. 
Nunca enxerguei vocês como impedimento para a realização dos meus sonhos, assim 
como também nunca me vi como empecilho para que constituam os próprios sonhos. 
Devemos preservar o que é essencial na utopia, no nosso desejo, porque é isso que 
deixamos para os filhos: um espaço de desejo para que se realizem".
Marina Silva, senadora do Acre pelo Partido Verde e ex-ministra do meio ambiente

"Sentia-me livre e feliz com sua existência, minha pequenina filha. Mas não havia 
tempo para você. Seu pai fora embora durante a gravidez. Curti cada instante de sua 
formação, seus pezinhos batendo em minha barriga. Você sabe disso, agora que também é mãe. Aliás, mãe de adolescente. 
Eu perdi sua adolescência. Estava longe. Nos encontrávamos raramente – duas vezes 
por ano? Menos até. 
Era uma alegria revê-la. Emoção. Lágrimas, abraços. Depois tínhamos de nos despedir e de novo chorávamos muito. 
Na verdade, mal nos conhecemos, embora tenhamos essa intimidade visceral. 
Seria bom se nos conhecêssemos melhor. 
Às vezes, vejo você menina, e você insiste em dizer que é mulher adulta. 
É mulher adulta e é menina".
Monja Coen, monja zen-budista 

"Eu senti, no ato, o momento em que engravidei. Senti um quente lá dentro, no útero, durou uns dias. Tanto que, na hora em que veio o teste positivo da gravidez, não estranhei: pirei. 
Ter filho nunca chegou a figurar em meus planos. Estava com 27 anos de idade, a milhão, na busca de minha carreira, de ser alguém na vida. Foi o pai, o Paulo Leite, quem se alegrou todo ao se saber grávido. No ato relevei, encarei com amor e essa foi a primeira lição de vida que minha filha me passou: 
— Aceitar com amor o mistério da vida".
Renata Falzoni, cicloativista

Estraído do livro coisas de Mãe para filha